Entendendo as Térmicas no Voo Livre

Por Lucas Machado – Adaptado para fins educacionais pela APVL

Encontrar uma térmica é, para o piloto de voo livre, equivalente a encontrar um verdadeiro tesouro. Apesar de invisíveis aos olhos humanos, as térmicas são estruturas atmosféricas reais e compreensíveis, fundamentais para a realização de voos prolongados.

O que são térmicas?

As térmicas são parcelas de ar que se formam na camada limite da atmosfera, aquecidas pela superfície terrestre. Quando sua temperatura supera a do ar ao redor, essa massa de ar se expande, torna-se menos densa e inicia um movimento ascendente, originando um fluxo convectivo. Embora muitos pilotos considerem a identificação de térmicas um fator de sorte, elas seguem padrões cíclicos e são parte de um sistema de circulação atmosférica previsível.

Visualizando o invisível

Pássaros possuem vantagens naturais ao identificar térmicas, como visão aguçada e sensibilidade ao fluxo de ar. Para os pilotos, a presença de fumaça, poeira, insetos, sacos plásticos ou aves planando são indícios valiosos. Em essência, a térmica tem comportamento semelhante a um dust devil, com a diferença de que pode ser invisível caso não haja partículas visíveis em sua origem.

As térmicas funcionam como vórtices ascendentes que sugam o ar ao redor, geralmente girando no sentido do efeito Coriolis: horário no hemisfério sul. Quanto mais intensa a térmica, menor é a sua influência pelo vento predominante. Térmicas fracas podem ser deformadas ou até dissipadas por ventos fortes.

Formato e comportamento

Sem vento, a térmica assume forma de coluna vertical com base alargada. Em dias de vento, inclina-se na direção do fluxo predominante, um fenômeno conhecido como “deriva”. Ao encontrar uma camada de inversão térmica, o topo da térmica pode formar um padrão semelhante a um chapéu de cogumelo.

Estrutura de uma térmica (il.do lLivro Understanding the sky – New Edition, Denis Pagen)

Turbulências e estrutura interna

A ascensão da térmica provoca turbulências em suas bordas devido ao cisalhamento com massas de ar descendente. Seu núcleo tende a ser mais laminar e com maior velocidade de subida, enquanto as extremidades são mais turbulentas. A face de barlavento (frente da térmica em relação ao vento) costuma apresentar fluxo mais estável; a sotavento, mais turbulenta.

Cisalhamento vertical gerando turbulências nas extremidades de uma térmica

 

Representação do fluxo em uma térmica sem e com influência de vento (il. rev. Cross Country)

 

Origem e padrões geográficos

Nas montanhas, as térmicas se desprendem de saliências expostas ao sol. Em planícies com pouco vento, organizam-se em padrões hexagonais. Com vento, formam as “cloud streets”, linhas de nuvens convectivas alinhadas com o vento.

Em sistemas de alta pressão, térmicas são menores, multicêntricas e turbulentas. Já sob baixa pressão, são maiores, mais estáveis e propícias à formação de nuvens.

Razões de subida ao longo de uma térmica (il. Revista Cross Country)

 

Gatilhos e influências externas

Térmicas se desprendem de superfícies aquecidas, mas necessitam de “gatilhos” para se libertar do solo: construções, matas, lagos, veículos em movimento, entre outros. Em montanhas, o relevo em si já funciona como um gatilho.

Térmicas de rotor

Surgem na parte sotavento de relevos, onde o fluxo de ar é mais turbulento. A turbulência depende da força do vento, da inclinação do relevo e da incidência solar.

Buscando térmicas

Pilotos experientes reconhecem padrões e locais com maior ocorrência de térmicas, como encostas ensolaradas e sob nuvens convectivas. As chamadas “térmicas residentes” são recorrentes e podem ser previstas. O voo eficiente depende do conhecimento sobre esses padrões, e não de sorte.

Considerações finais

O entendimento sobre o comportamento das térmicas é fundamental para a segurança, eficiência e prazer no voo livre. Ao reconhecer seus padrões e sinais, o piloto amplia sua performance e reduz riscos.