Em meio às montanhas do Noroeste Fluminense, nasceu uma das histórias mais inspiradoras do esporte nacional. Esta é a trajetória de Porciúncula–RJ, hoje reconhecida como o verdadeiro Paraíso do Voo Livre, contada com detalhes e emoção por quem viveu cada etapa dessa conquista: Carlos Wilson Garcia, um porciunculense apaixonado que foi peça-chave na revelação do potencial da cidade para a prática da asa delta e, mais tarde, do parapente.
Este precioso relato nos foi concedido em 2015, no início do movimento de resgate do voo livre no município, graças à dedicação incansável do piloto Marcelo Carlos Ferreira, que buscou essa história com zelo e respeito por nossas origens. Marcelo, mais que um piloto, é um entusiasta que assumiu como missão manter viva a chama do voo livre em nossa terra.
A Primeira Decolagem de Um Sonho
A semente foi plantada em uma noite de 1981, em uma conversa entre Carlos Wilson e o amigo Natinho, na antiga rodoviária da cidade. A ideia ousada: decolar do Morro da Televisão (atualmente Morro da Antena) e pousar no Campo de Aviação. Na época, a proposta soava improvável — mas a vontade de provar o contrário era maior.
Carlos convidou seu colega de trabalho e piloto experiente, Jan Germund Eggen, que aceitou o desafio. Nos dias 22 e 23 de agosto de 1981, durante as festividades de emancipação de Porciúncula, Jan realizou os dois primeiros voos solos na história da cidade — feitos que mudariam para sempre a relação do município com os céus.
Voos Que Mudaram o Destino da Cidade
Mesmo sem infraestrutura, com uma rampa improvisada construída por um carpinteiro local, Jan conseguiu decolar de um pasto lateral e voar sobre a cidade. No mês seguinte, retornou acompanhado do piloto Zé Galinha, consolidando a segurança e a qualidade do local para a prática do voo livre.
Em 1982, o que era um sonho se tornou realidade: Porciúncula sediaria a 2ª etapa do VIII Campeonato Brasileiro de Asa Delta, após articulação com a ABVL e AVLRJ. A cidade recebeu de braços abertos 64 pilotos de diversos estados, com provas realizadas entre os dias 6 e 9 de novembro daquele ano. Com decolagens em baterias e provas do tipo cross country, pilotos pousaram em Miracema, Pádua, Muriaé, Carangola, Caparaó, entre outras localidades — em voos longos e memoráveis.
O Paraíso Ganha Nome e Reconhecimento
Foi nessa época que nasceu o nome que até hoje representa Porciúncula: “Paraíso do Voo Livre”. A ideia surgiu em uma conversa entre Carlos Wilson e o conhecido Eugênio “Pororoca”, sendo divulgada pelas camisetas vendidas durante o campeonato, e oficializada pelo então prefeito Ivon Mansur, em apoio aos eventos de voo realizados nos anos seguintes.
Temporada Internacional e o Crescimento do Esporte
Em 1983, Porciúncula foi palco da 1ª Temporada Internacional de Cross Country, organizada pela AVLRJ e ABVL, com apoio da prefeitura e do Clube de Caça e Pesca. A competição consistia em voos registrados ao longo de dois meses, com premiação para o maior percurso. O vencedor foi Rony Falcão, que recebeu uma asa Condor em cerimônia oficial no dia 13 de junho.
Gratidão aos Pioneiros e aos Que Mantêm a Tradição Viva
O legado do voo livre em Porciúncula jamais seria o mesmo sem a coragem e a visão dos pioneiros. Em especial, homenageamos Jan Germund Eggen, agraciado com o título de Cidadão Porciunculense em 1982, e Carlos Wilson Garcia, autor deste relato histórico e verdadeiro guardião dessa memória.
E não podemos deixar de agradecer aos pilotos veteranos da cidade, que ao longo dos anos mantiveram viva essa cultura e inspiraram novas gerações. Nossa gratidão a Humberto Mendonça, Daruich, Dyá Nunes, Luciano, entre tantos outros nomes que merecem reconhecimento por sua contribuição ao voo livre porciunculense.
Um Novo Tempo, Uma Nova Missão
Hoje, Porciúncula volta a respirar o voo livre com força e paixão. Muito disso se deve à dedicação de Marcelo Carlos Ferreira, que não apenas buscou e compartilhou esta história, mas também tem liderado, com amor e compromisso, a reconstrução do voo livre em nossa cidade.
Sua coragem, visão e esforço representam o elo entre passado e futuro — e garantem que o céu de Porciúncula continue sendo palco de sonhos, desafios e conquistas.
Acima de tudo, Porciúncula é voo livre. Sempre foi. Sempre será.
“O Prefeito Alaor agradeceu a todos os voadores e disse que nunca poderia pagar a grande alegria que todos levaram a seu município, fazendo com que este ficasse em tão pouco tempo divulgado em todo o país…”
Por: APVL